Quintas do MARE

De que forma a intensidade de pesca afeta a ecologia espacial e trófica de duas espécies de gaivotas que se reproduzem em simpatria

Um teste à proibição das rejeições de pescas no mar

Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra

Por Diana Matos (MARE-UC).

As gaivotas são aves marinhas oportunistas e algumas populações são fortemente dependentes dos recursos antropogénicos, tais como, as rejeições da pesca que têm vindo contribuir para o aumento das mesmas. No entanto a implementação da nova política europeia para a proibição das rejeições de pescas no mar, deverá resultar num período de grande escassez de alimento, para espécies dependentes deste recurso. Durante os anos de 2015-2016, avaliamos diferenças na procura de alimento, dieta e ecologia trófica da Gaivota-de-Audouin Larus audouinii e da Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis, que se reproduzem em simpatria na Ilha da Barreta (Sul de Portugal). Com objetivo principal de avaliar de que forma as atividades da pesca influenciam a ecologia destas espécies de gaivota. Com o recurso a diferentes métodos, como dieta, análise de isótopos estáveis e dispositivos de GPS, comparamos diferentes períodos de intensidade pesqueira, definidas por atividade piscatória normal e atividade piscatória baixa. Os resultados revelaram que sob intensidade de pesca normal, ambas as espécies de gaivotas basearam a sua dieta em espécies marinhas de interesse comercial e apresentaram um reduzido nicho isotópico, provavelmente devido a uma dieta mais piscívora. Por outro lado, num período de baixa atividade piscatória, ambas as espécies apresentaram uma dieta composta principalmente por peixe, no entanto, diminuíram a variabilidade de espécies demersais consumidas. A gaivota de patas-amarelas aumentou o consumo das principais espécies pelágicas comerciais e a gaivota de Audouinii consumiu mais espécies epipelágicas, que podem ser capturados naturalmente ou em associação com as pescas (ex. peixe agulha). Neste mesmo período a gaivota de Audouinii exibiu um nicho isotópico mais estreito e a gaivota de patas-amarelas mais amplo. A gaivota de Audouinii passou mais tempo no mar em áreas mais pelágicas e produtivas, enquanto a gaivota de patas-amarelas estendeu-se para habitats terrestres. 

13h30
MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente