Tetranychus evansi
“Os nossos resultados demonstram que os processos biogeográficos que determinam que algumas espécies e grupos de animais estão presentes em certas regiões são pelo menos tão importantes quanto os processos ecológicos locais para determinar como é que as espécies contribuem para o funcionamento dos ecossistemas, senão mais. Isto contradiz a visão clássica de estudar as interações entre espécies e o funcionamento dos ecossistemas a partir de processos locais, apelando a uma perspetiva mais global em ecologia.”
Joaquín Hortal, do Museo Nacional de Ciencias Naturales, CSIC, Espanha & cE3c
“Geography and major host evolutionary transitions shape the resource use of plant parasites” da autoria de Joaquín Calatayud, José Luis Hórreo, Jaime Madrigal-González, Alain Migeon, Miguel Á. Rodríguez, Sara Magalhães e Joaquín Horta salienta a necessidade de estudos mais globais em Ecologia.
Utilizando os ácaros como ponto de partida, os investigadores demonstraram que para compreender os processos ecológicos locais, como as interações entre espécies, é também necessário compreender os processos biogeográficos a larga escala.
O estudo publicado no volume 113, número 35 da revista PNAS, lança uma nova luz sobre um dos maiores desafios em Ecologia e Biologia Evolutiva: porque é que certos organismos se alimentam de determinadas espécies e se encontram em determinados habitats, e outros não?
“Os ácaros são bastante eficientes a desenvolver novas estratégias para utilizar diferentes plantas, e os nossos resultados tornam claro que isto permitiu que eles se alimentem de algumas das plantas disponíveis onde vivem. No entanto, é verdade que os ácaros se especializam em determinados tipos de plantas, portanto as grandes transições evolutivas em plantas ainda determinam quais as plantas hospedeiras que os ácaros vão utilizar.”
Sara Magalhães, investigadora do cE3c
Os investigadores utilizaram uma base de dados com cerca de 1200 espécies de ácaros, disponível gratuitamente, para avaliar quais os factores que afetam as plantas das quais os ácaros se alimentam por todo o mundo. Utilizando uma nova abordagem, baseada na análise de redes e análise filogenética – o estudo das relações evolutivas entre grupos de organismos –, os investigadores demonstraram que, ao contrário do que se pensava, os ácaros não se especializam evolutivamente em grandes grupos de plantas ao longo de milhares ou milhões de anos. Pelo contrário: as plantas por eles utilizadas dependem em grande parte de estarem disponíveis na sua região geográfica. Os ácaros alimentam-se de qualquer planta que esteja disponível ao seu redor.
Estes resultados transportam para a Ecologia a premissa “pensa de forma global, age à escala local”: para compreender os processos ecológicos locais é necessário ter em conta os processos biogeográficos que ocorrem à escala global.