Carlo Fantoni, Maria Oliveira, e Miguel Fialho são três dos membros da equipa que tem desenvolvido o TejoOne
TejoOne é um nanossatélite que cabe na palma da mão e tem também tudo para que, em 2027, se torne um “olho na escuridão”. Pelo menos, é essa a expectativa da equipa da associação juvenil Espaço Ao Cubo, que tem vindo a desenvolver o pequeno satélite com o objetivo de vencer o concurso CubeSat Portugal, que é organizado pela Agência Espacial Portuguesa. O anúncio do vencedor, que terá direito a um lançamento para a Espaço, só deverá chegar durante 2026 - mas a equipa de estudantes, que conta com forte presença da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa), não quis deixar de fazer, esta sexta-feira, um balanço sobre o desenvolvimento do dispositivo alado que pretende localizar detritos espaciais de três centímetros a 224 quilómetros de distância.
“Os satélites que já conseguem detetar este tipo de detritos são bem maiores que o TejoOne e são todos bem mais caros. Nós queremos demonstrar que é possível fazer um satélite para missões idênticas que é mais compacto no tamanho e no preço”, explica Miguel Fialho, aluno de mestrado de Engenharia Física e um dos coordenadores do projeto. “Mesmo sem sabermos quem vai ser o vencedor, já temos ganhos garantidos com este projeto”, acrescenta Teresa Correia, presidente da Associação Espaço Ao Cubo, e antiga aluna de Engenharia Física.
A ideia começou a ganhar forma no final de 2023 – mas foi em 2024 que o grupo de jovens decidiu avançar para algo concreto. Apontada como a principal mentora desta mini-aventura espacial, Teresa Correia recorda que tudo surgiu após uma participação no concurso de lançamento de dispositivos conhecidos por cansat e com o anúncio de que a Agência Espacial Portuguesa iria avançar com um concurso para o desenvolvimento de nano-satélites com configuração de CubeSat. Enquanto a competição de Cansat se destinava a alunos do ensino secundário, a competição de CubeSat já é endereçada a estudantes universitários. E foi nesse ponto que os jovens optaram por criar uma associação para a inclusão de membros que estudam noutras faculdades. “Temos uma excelente equipa multidisciplinar e tirámos partido das valências que Ciências ULisboa tem nas áreas da ótica e da eletrónica”, refere a presidente da Associação Espaço Ao Cubo.

Os números confirmam que a Espaço ao Cubo não se iludiu com o brilho das estrelas: desde o arranque já passaram pelo projeto 70 jovens – sendo que hoje há 50 que estudam em 11 instituições de ensino e mantêm a colaboração. Até à data, foi angariado junto de empresas e outras entidades o correspondente a €70 mil em componentes, apoios e outros contributos para a construção do satélite cúbico, que está em vias de entrar na fase decisiva, com recurso à sala limpa do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).
“Somos todos estudantes e nenhum de nós alguma vez tinha feito um satélite. Fomos buscar inspiração a outros projetos e, a partir desse ponto de partida, vimos o que seria necessário comprar e o que teria de ser feito do zero”, descreve Miguel Fialho. A avaliar pelas entidades que aceitaram apoiar o projeto o prognóstico não poderia ter sido mais certeiro. Além do apoio técnico de investigadores de Ciências ULisboa, o desenvolvimento do TejoOne conta ainda com contributos de nomes com histórico no sector do Espaço, como a Thales, a Critical Software, o centro CTI Aeroespacial, as empresas Exatronic e Vorago, a Força Aérea Portuguesa ou a startup Synopsis Planet.
Guiomar Evans, subdiretora de Ciências ULisboa, reitera o interesse em ajudar as iniciativas de alunos a descolar. “Mantemos a disponibilidade para o apoio a projetos e iniciativas que permitem obter novas experiências e ajudam a enriquecer as atividades que os alunos podem encontrar em Ciências ULisboa”, acrescenta a professora de Ciências ULisboa.
Com todos os apoios captados, os jovens da Espaço Ao Cubo pretendem construir um nano-satélite de 1,33 Kg, que deverá ser lançado em órbitas entre 500 e 520 quilómetros de distância da Terra. Além da câmara que poderá detetar detritos de três a dez centímetros a distâncias entre os 224 e 752 quilómetros, o TejoOne deverá estar dotado de antenas que comunicam nas radiofrequências UHF para trocar dados com uma estação terrestre.
Estima-se que os detritos observados possam orbitar a 27 mil Km/h, mas com recurso a algoritmos e técnicas de fotometria será possível distinguir rastos de detritos a quilómetros de distância, a partir das imagens captadas pela câmara do pequeno satélite. A localização é feita com base na comparação com coordenadas das estrelas. “O objetivo é criarmos um catálogo público dos detritos que se encontram em órbita”, refere Miguel Fialho. Carlo Fantoni, aluno de engenharia Física e um dos coordenadores do TejoOne, recorre à metáfora na hora de responder se a iniciativa contempla o desenvolvimento de mais satélites: “Ainda não pensámos como poderá evoluir o projeto, mas queremos garantir que o TejoOne se torna um olho que nos permite ver no meio da escuridão”.
Ainda que auspiciosa, a observação do espaço terá sempre algumas limitações já conhecidas: ao cabo de quatro anos de "vida", prevê-se que o pequeno TejoOne seja forçado a acionar os mecanismos que o deverão levar a desintegrar-se contra o atrito da atmosfera terrestre. “Não queremos contribuir com mais detritos no Espaço”, conclui Miguel Fialho.

