Opinião

As novas linguagens do afeto

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Duas pessoa dão as mãos

A nossa necessidade de conexão e de afeto é singular, no sentido em que precisamos e procuramos o contacto com outros seres humanos

unsplash - Aarón Blanco Tejedor
Inês Ventura
Inês Ventura
ACI Ciências ULisboa

A dado momento na nossa vida, já todos ouvimos a famosa frase de Aristóteles: “O Homem é um animal social”. Apesar de dissecada, inúmeras vezes, talvez atualmente esta frase faça mais sentido que nunca.

De facto, a nossa necessidade de conexão e de afeto é singular, no sentido em que precisamos e procuramos o contacto com outros seres humanos.

Muitos de nós, tendo sangue latino nas veias, temos o hábito de mostrar aos outros o quão importantes são na nossa vida através do toque: abraçamos, beijamos, damos as mãos, acariciamos. É algo que nos proporciona conforto, segurança, tranquilidade. É algo que sempre fizemos e que nunca questionámos.

Mas o que acontece quando, de repente, a nossa forma de expressar amor e apreço pelo outro se transforma num risco para a saúde de ambos? Quando tal nos é negado, podemos sentir melancolia, raiva, ou até nostalgia. Isto pode surgir de forma mais intensa, por exemplo, como uma enorme sensação de vazio; ou de forma mais subtil, como saudades dos pequenos gestos e momentos que tínhamos como garantidos.

Contudo, é importante manter em mente que os ajustes que temos vindo a fazer são temporários. Podemos continuar a expressar o nosso afeto, de forma habitual, às pessoas que nos estão mais próximas (por exemplo, que vivem connosco).

Alternativamente, podemos experimentar fazê-lo de uma outra forma, aos que neste momento estão menos acessíveis. Por exemplo, podemos mostrar-lhes a importância que continuam a ter para nós através de um olhar, de pequenas ações ou até do tempo de qualidade que lhes dedicamos.

Com o tempo, vamos voltar a dar beijos e fortes abraços aos amigos, sem receios. Até lá, podemos repensar o modo como expressamos afetos para que, em tempos difíceis, esta necessidade tão humana continue a ser bem cuidada.

Inês Ventura, Gabinete de Apoio Psicopedagógico da Área de Mobilidade e Apoio ao Aluno de Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt