A primeira coisa a fazer é reconhecer e identificar qual é que é a verdadeira ameaça que eu estou a percecionar
“- Do que é que acha que tem receio? - De falhar!”. Este é provavelmente dos medos mais referidos no contexto académico. Falhar nos exames, não ter a nota que se quer, não passar ao teste, não ter o desempenho que gostaria numa apresentação, não conseguir ter um artigo pronto no prazo estipulado.
A presença deste medo e a ansiedade que ele gera, são processos emocionais naturais em cada um de nós, tendo em conta, as exigências que temos de fazer face, a preocupação que temos da avaliação que o outro faz de nós e a nossa própria auto-avaliação. Contudo importa, compreender e poder agir quando este medo gera sensações para alguém de um desconforto tolerável.
Quando o medo de falhar deixa de ser tolerável, geralmente surgem sensações que geram tanto desconforto na pessoa, ao nível físico e psicológico que conduzem à adoção de estratégias menos saudáveis na gestão desse medo. Assistimos a dois grandes grupos de estratégias: o controlo e o evitamento.
Na estratégia de controlo, a pessoa tem tanto medo de falhar que utiliza formas compensatórios na tentativa de o eliminar, trabalhando muitas horas seguidas (sem que tal, seja necessário), surgem pensamentos de constante auto-crítica e exigência, o que muitas vezes é confundido com ter “brio profissional” ou gostar de fazer as coisas bem. Mesmo esta estratégia, pode levar mais tarde a uma estratégia de evitamento, uma vez que, a pessoa leva-se a um extremo de exigência e esforço que desenvolve quase uma “fobia” ao trabalho que estava a realizar.
Na estratégia de evitamento, a pessoa “foge” do estímulo que lhe causa medo de falhar, evitando fazer as coisas; não estudar, adiar constantemente escrever a tese ou pegar nos dados para analisar. A longo prazo, esta estratégia reforça a ideia de que não se é capaz, uma vez que não vai vendo o trabalho realizado, e a falta de concretização alimenta ainda mais uma sensação de vulnerabilidade.
Para ambos os casos, a primeira coisa a fazer é reconhecer e identificar qual é que é a verdadeira ameaça que eu estou a percecionar - Qual é o verdadeiro perigo que eu estou a identificar e a confrontação deste com a realidade - O que é que existe na realidade neste momento concreto que me faz sentir este medo desta forma.
Sugestões
- Tomar consciência de que se está a ser intolerável o grau de desconforto é porque estou talvez, a projetar medos que não são necessariamente só o ir fazer um exame ou teste. Se assim o é, então posso tentar compreender que outros medos é que me estão a dificultar;
- Compreender e aceitar que uma coisa é o meu comportamento, outra sou eu como um todo. Isto porque, se nos focarmos no comportamento, percebemos que mais facilmente o podemos alterar no presente e no futuro, em vez que estar constantemente a ter pensamentos depreciativos;
- Aceitar e tolerar as falhas (isto é diferente de não se querer fazer bem as coisas) e lidar com a situação de forma responsável e respeitosa para connosco e não de autoculpabilização.
Este é um ponto fundamental, porque se o medo é tanto e gera tanta ansiedade, que me está a impedir de seguir de forma saudável o curso do meu trabalho, então eu estou a percecionar um perigo onde ele não existe. Isto é, ele existe dentro de mim num “tamanho” maior do que ele é na realidade. Porque é que isto acontece? Porque no contexto do desenvolvimento e formação de cada um de nós, houve um conjunto de experiências que foram reforçadas e projetamos as mesmas para situações presentes. Exemplos: a minha autoestima sempre foi baseada no facto de ser o melhor aluno, tenho sempre de fazer as coisas perfeitas se não os outros vão deixar de gostar de mim ou até o contrário, as pessoas que não foram valorizadas pelas suas características e/ou competências sentem uma grande insegurança em agir sobre as suas vidas com medo de falhar e confirmarem a sua insegurança.